Junho Violeta: a luta das mulheres para envelhecer com dignidades

Iniciamos o Junho Violeta, mês dedicado à conscientização e ao combate à violência contra a pessoa idosa, com destaque para o dia 15 de junho — Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. Embora o debate sobre o envelhecimento deva incluir toda a população, é fundamental reconhecer que as desigualdades de gênero tornam as mulheres idosas mais vulneráveis que os homens.

Por isso, faz-se necessário dar visibilidade a uma questão que, muitas vezes, é invisibilizada: a luta das mulheres idosas para envelhecer com dignidade, respeito e autonomia. Envelhecer sendo mulher é enfrentar, ao longo da vida, uma série de violências que se acumulam e se transformam com o tempo. É, em muitos aspectos, um ato de resistência!

O machismo estrutural, a desigualdade de gênero, o preconceito etário (etarismo) e a invisibilidade social atingem de maneira mais intensa as mulheres idosas. Muitas delas, ao envelhecer, veem-se marginalizadas, afastadas dos espaços de poder, excluídas das decisões familiares e sociais, negligenciadas em suas necessidades básicas e afetivas, além de, frequentemente, sofrerem violência física, psicológica, patrimonial e institucional.

A sociedade ainda valoriza a juventude como sinônimo de beleza, produtividade e relevância. Mulheres, desde cedo, são ensinadas a associar seu valor à aparência e à docilidade. À medida que envelhecem, enfrentam não apenas as limitações impostas pelo corpo, mas também o apagamento social e simbólico. São menos ouvidas, menos representadas, menos respeitadas. Tornam-se invisíveis.

Mas há uma contracorrente. Um grupo crescente de mulheres recusa esse apagamento e se torna, no melhor sentido da palavra, subversivo: elas rompem com os padrões de silenciamento, de submissão e de aceitação iva do envelhecimento como declínio. São mulheres que envelhecem com voz, com projetos, com raiva justa e com capacidade de indignação diante das injustiças — inclusive aquelas travestidas de “cuidados” que escondem abusos.

O Junho Violeta é mais do que uma campanha de prevenção: é um chamado à capacidade de indignação. Indignar-se contra a normalização dos abusos, contra o apagamento da mulher nos espaços de poder, contra a infantilização da mulher idosa, contra a negação do seu papel na sociedade. Indignar-se, também, contra o silenciamento de suas dores, desejos e histórias.

É um mês para reconhecer a força de resistência dessas mulheres. Nesse aspecto, a luta por envelhecer com dignidade deve ser coletiva e política. Ela a pelo o à saúde pública de qualidade, à moradia segura, à previdência justa, ao direito de viver sem violência e com liberdade. a, sobretudo, pelo reconhecimento de que a velhice feminina é plural, ativa e cheia de potência.

Valorizar e ouvir as mulheres idosas é um ato de justiça social. É garantir que elas não apenas sobrevivam, mas vivam plenamente, com respeito e afeto, rompendo com a lógica de que o envelhecimento feminino é um sinônimo de desaparecimento.

Junho Violeta é um convite à reflexão, mas também à ação concreta. É hora de reconhecer as violências silenciosas que cercam o envelhecimento feminino — desde a negligência institucional até a desvalorização simbólica — e de combatê-las.

A capacidade de se indignar é um direito, mas também uma força política. Muitas mulheres idosas, sobretudo aquelas que já trilharam caminhos de militância feminista, ativismo social ou comunitário, continuam a denunciar a violência doméstica, o abandono, o etarismo, o apagamento nos espaços de poder e a desigualdade nas políticas públicas. Lutam por aposentadorias dignas, o à saúde, moradia segura e espaços de convivência que valorizem sua história.

Essa indignação não nasce da amargura, mas da consciência de que a dignidade é inegociável. E que não há limite de idade para reivindicá-la!

As mulheres subversivas que envelhecem com dignidade não são necessariamente figuras públicas ou conhecidas. Muitas estão nos bairros, nas rodas de conversa, nos coletivos de terceira idade, nas redes de apoio informal. São avós que criam netos com sabedoria crítica, professoras aposentadas que seguem alfabetizando adultos, lideranças comunitárias que organizam hortas coletivas, redes de afeto e luta por direitos.

Helcínkia Albuquerque

A luta das mulheres subversivas por um envelhecimento digno é, no fundo, uma luta pela valorização da vida em todas as suas fases. Porque envelhecer não é perder potência, é apenas mudar a forma como ela se expressa.

Subverter, aqui, é um gesto de amor-próprio e de solidariedade. É também um gesto de futuro: envelhecer com dignidade hoje é construir um amanhã mais justo para todas as mulheres que virão.

Que, neste Junho Violeta, a indignação se transforme em ação. Que a sociedade como um todo se comprometa com a construção de um envelhecimento verdadeiramente digno, justo e humano para todas as mulheres.

*Helcínkia Albuquerque é advogada, docente, mestre em Direito, presidente da Associação Nacional da Advocacia Criminal no Acre (Anacrim-AC), co-presidente da União Nacional das Advogadas Criminalistas (UNA), vice-presidente da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica – Seção Acre (ABMCJ-AC).

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