O desempenho da economia brasileira nos três primeiros meses deste ano, com alta de 1,4% em relação ao trimestre anterior, não surpreendeu o mercado. A tendência para o segundo semestre de 2025 é a de uma desaceleração da atividade econômica, que não contará com a mesma força demonstrada pelo agronegócio nos últimos meses.
De acordo com dados divulgados nesta sexta-feira (30/5) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil avançou 1,4% entre janeiro e março deste ano, na comparação com o quarto trimestre de 2024.
O resultado foi puxado novamente pelo agro, que avançou 12,2% no período. Também houve alta, menos expressiva, em serviços (0,3%), enquanto a indústria não mostrou variação significativa (-0,1%).
Em relação ao 1º trimestre de 2024, o PIB brasileiro avançou 2,9%, com crescimento na agropecuária (10,2%), na indústria (2,4%) e nos serviços (2,1%).
A alta trimestral de 1,4% correspondeu às estimativas do mercado. Já a expansão anual de 2,9% ficou ligeiramente abaixo da média das projeções, que rondava os 3,2%.
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O que pensa o mercado
Segundo economistas, analistas e agentes do mercado ouvidos pela reportagem do Metrópoles nesta manhã, pouco depois da divulgação do resultado do PIB, a economia brasileira deve intensificar a desaceleração na segunda metade do ano.
Em linhas gerais, o setor agropecuário costuma influenciar o PIB no começo do ano por causa da soja, que tem colheita entre os meses de janeiro e maio.
“O desempenho do agro ainda deve contribuir no 2º trimestre, mas esperamos que a tendência de desaceleração da demanda, tanto nos investimentos como no consumo das famílias, deva permanecer. O PIB, que cresce 3,5% no acumulado de 12 meses até março de 2025, deve desacelerar para mais próximo de 2% até o final do ano”, projeta Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter.
“Estimular uma economia que cresce acima do seu potencial não é sustentável no longo prazo. O investimento no primeiro trimestre ainda teve alta e contou com importação de plataformas de petróleo, mas o atual patamar de juros e as incertezas tributárias não devem estimular um novo crescimento no curto prazo”, explica a economista.
Para Rafaela Vitoria, “devemos seguir com o baixo patamar de 17% de investimento sobre o PIB”. “A desaceleração da demanda é importante neste momento para que os juros caiam e o crescimento da oferta, além do agro, possa ser retomado”, afirma.
Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, avalia que o resultado do PIB brasileiro no primeiro trimestre representa, para o Banco Central (BC) – que define a taxa básica de juros (Selic) – “um copo meio cheio, meio vazio”.
“Não deve aumentar mais a probabilidade de continuidade de ciclo, quando comparado à visão pós-dados do mercado de trabalho. Mas também não deve diminuir muito: PIB é retrovisor, dá um cheiro do qualitativo. E o qualitativo é de recuperação da demanda doméstica em relação ao quarto trimestre”, afirma.
“A perspectiva é um mercado de trabalho forte. No entanto, dada a comunicação recente do BC, continuamos vendo a Selic em 14,75% até o final de 2025 como o cenário mais provável”, aposta.
Pablo Spyer, economista e conselheiro da Ancord, adota um tom mais otimista ao traçar suas perspectivas para a economia do país. “Esse desempenho não é apenas um número. É um sinal claro de que o Brasil está no caminho certo para consolidar sua recuperação econômica”, diz.
“A combinação de políticas públicas eficazes, como a ampliação do crédito consignado para o setor privado e a liberação de recursos do FGTS, com a resiliência do setor produtivo, demonstra que, mesmo diante de desafios, a economia brasileira possui fundamentos sólidos”, observa.
Na avaliação do economista Maykon Douglas, “o PIB deste trimestre não trouxe grandes surpresas”. “O agro se favoreceu pelas perspectivas de safra recorde, impacto que naturalmente se concentra no primeiro trimestre, dada a sazonalidade das safras. No entanto, também há certos elementos que observamos ao longo do ano ado, em especial a alta no investimento das firmas, que fortalece as importações pelo aumento da demanda por máquinas e equipamentos”, afirma.
“A recuperação do consumo das famílias foi o resultado mais positivo, após o ‘engasgo’ registrado no trimestre ado. O mercado de trabalho continua a surpreender, como vimos na Pnad e no Caged desta semana, e sua desaceleração deve ser lenta. Com o crescimento real da renda, a engrenagem continua girando forte”, prossegue o economista.
“O grande ponto será ver como a atividade reagirá sem o ‘empurrão’ do agro e à medida que ela sentir o efeito defasado dos juros mais altos, e também o quanto as medidas pró-demanda do governo impactam o crédito e o consumo e amortecem o lado monetário”, conclui.
PIB do Brasil
O PIB é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, estado ou cidade, em determinado período. Uma alta significa que a economia está crescendo em um ritmo bom, enquanto um recuo implica encolhimento da produção econômica.
A estimativa do Banco Central (BC) para o crescimento do país neste ano é de 1,9%. O Ministério da Fazenda, por sua vez, projeta uma expansão maior, de 2,4%.
Para o mercado financeiro, o PIB do Brasil avançará 2,14% em 2025.
Em 2024, a economia brasileira cresceu 3,4%, ante crescimento de 3,2% em 2023.