2 de junho de 2025

Arqueólogos descobrem impressão digital de 43 mil anos: “Ritualístico”

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Uma pedra marcada por um ponto vermelho encontrada em uma caverna na Espanha acabou revelando a impressão digital humana mais antiga conhecida, datada de 43 mil anos. Ela pertenceu à um jovem neandertal.

A marca foi encontrada no abrigo rochoso de San Lázaro e descrita em um artigo publicado na revista Archaeological and Anthropological Sciences no dia 24 de maio.

O achado, conduzido por arqueólogos da Universidade Complutense de Madri, não representa uma marca aleatória e os pesquisadores suspeitam de que a prática possa ter feito parte de um ritual.

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Como é feita uma escavação arqueológica?

  1. Planejamento e pesquisa: antes da escavação, arqueólogos estudam locais que podem ter peças de interesse histórico, especialmente cavernas que funcionavam como abrigo natural contra a chuva. Após definirem as áreas de interesse com base em indícios prévios, eles obtêm autorizações legais e organizam a logística da investigação no local.
  2. Escavação controlada: a escavação é feita em camadas, com ferramentas precisas, especialmente pás de precisão e pincéis. As descobertas arqueológicas estão tipicamente enterradas sob camadas de solo devido ao processo natural de sedimentação ao longo do tempo (a poeira se acumula até enterrar objetos). A atividade humana, como agricultura e construção, também contribui para o acúmulo de solo em áreas onde sítios arqueológicos podem estar localizados.
  3. Retirando os objetos: cada achado é documentado com fotos e identificadores para análises laboratoriais mais precisas. O solo é peneirado para recuperar pequenos artefatos e amostras, garantindo o máximo de informação possível.
  4. Registro e análise: Todo o material coletado é limpo, catalogado e analisado em laboratório. É nesta etapa do processo que os achados são datados. Os dados ajudam a interpretar como as pessoas viviam no ado, além de encontrar ossadas de indivíduos e animais. Por fim, os resultados são publicados, e os achados podem ser preservados em museus ou centros de pesquisa.

Pedra com utilidade ritual

A rocha de granito foi descoberta em 2022 afundada no solo ao lado de algumas ferramentas rudimentares também associadas ao uso por neandertais. Medindo 21 centímetros, a pedra é a única que não apresenta sinais de uso funcional.

Ao invés disso, exibe três reentrâncias e um ponto ocre vermelho que sugerem uma semelhança com um rosto humano, segundo a hipótese dos pesquisadores, ou pelo menos elementos que sugerem intenção estética ou ritualística com a peça.

A combinação de pigmento e semelhança morfológica levou os pesquisadores a teorizar que a pedra poderia ter sido usada em contextos rituais ou representativos. A pigmentação, aplicada diretamente sobre a superfície do granito, foi identificada como óxido de ferro — um dos pigmentos mais utilizados na arte rupestre atribuída aos neandertais.

Esse tipo de uso de cor tem paralelos com pinturas descobertas em cavernas como La Pasiega e Maltravieso, centros de arte rupestre mais conhecidos da Espanha.

3 imagensExames microscópicos do ponto vermelho revelaram as espirais da impressão digital neandertal que o formou há cerca de 43 mil anosDescobertas foram feitas em abrigo natural em Segóvia, na EspanhaFechar modal.1 de 3

A rocha foi identificada como tendo um formato de rosto e o ponto vermelho pintado poderia ser um nariz.

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Exames microscópicos do ponto vermelho revelaram as espirais da impressão digital neandertal que o formou há cerca de 43 mil anos

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Descobertas foram feitas em abrigo natural em Segóvia, na Espanha

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Impressão digital na pedra

Mais intrigante foi a revelação, por análise multiespectral, de uma impressão digital humana sobre o ponto ocre. Invisível a olho nu, a imagem dermatoglífica apresenta detalhes como bifurcações e cristas, formando a mais completa impressão digital já identificada em contexto arqueológico.

A identificação do padrão da digital foi confirmada por análises forenses e reforçada por modelagens estatísticas. Simulações computacionais indicaram menos de 1% de chance de que a disposição entre o ponto vermelho e os recortes ocorresse de forma aleatória.

A metodologia envolveu escaneamento 3D, microscopia eletrônica de varredura e comparação forense de cristas digitais. Esse conjunto técnico aumenta a confiabilidade da interpretação, reforçando a ideia de intencionalidade por parte de quem manipulou a peça.

Simbolismo pré-Homo sapiens

A rocha também não pertence à geologia imediata do abrigo. Proveniente do leito do Rio Eresma, a cerca de cinco quilômetros de distância, ela teria sido transportada intencionalmente por um neandertal. Sua composição rica em quartzo e o tamanho incomum excluem o uso como ferramenta ou arma.

“Se interpretarmos como intencional, isso representa uma forma precoce de simbolização facial”, apontam os autores no texto. Esse padrão, embora rudimentar, sugere que a cognição simbólica, de criar rituais e arte, não era exclusiva do Homo sapiens, como outros trabalhos sugeriram nas últimas décadas.

Descobertas anteriores, como garras de águia trabalhadas e marcas em ossos, desafiam a ideia de uma divisão cognitiva clara entre humanos modernos e seus ancestrais evolutivos.

A imagem facial presente no seixo pode não ser tão clara, mas seu transporte, modificação e decoração indicam propósito. E isso, por si só, terá implicações importantes nas próximas análises da região.

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