Em coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (29), a Polícia Civil do Acre deu detalhes da operação deflagrada ainda nesta manhã, no Conjunto Habitacional Cidade do Povo, em Rio Branco, para o cumprimento de mandados de prisão e de busca e apreensão relacionados ao desdobramento do crime bárbaro de linchamento e assassinato de Yara Paulino.
A vítima foi morta de forma brutal em um ato de linchamento, no dia 24 de março deste ano, após a falsa acusação de que ela teria matado sua filha, de poucos meses de vida, e jogado o corpo em um saco de ração, que foi encontrado no bairro. Dentro do saco havia a ossada de um animal, que foi confundida com os restos mortais da criança.
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Oito pessoas foram presas nesta terça-feira — capturadas na Cidade do Povo — e outras duas pessoas foram presas em outro local. Um dos envolvidos no crime é José Gabriel Lima do Nascimento, de 23 anos, que tentou fugir da polícia e acabou entrando na Escola de Gastronomia Miriam Assis Felício, trancando-se em uma das salas. A polícia cercou o prédio e conseguiu capturar o suspeito.
O delegado Leonardo Ribeiro, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), explicou que, além das prisões, 10 mandados de busca e apreensão foram cumpridos.
Todas as prisões estão relacionadas ao homicídio.
“Essas prisões estão relacionadas diretamente à morte de Yara. Então, assim, foram prisões autorizadas pelo Judiciário em relação ao inquérito relativo à morte. Não podemos descartar que pessoas que estão sendo ouvidas possam ter algumas informações sobre o desaparecimento da criança. Então, ainda estamos em fase de coleta de interrogatórios, que não foram finalizados. Mas, assim, em relação às prisões, elas estão ligadas ao homicídio”, destacou.
Sobre o ex-marido de Yara e pai da criança, a polícia informou que ele também foi preso por envolvimento na morte da jovem.

Delegado Leonardo Ribeiro, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP)/Foto: ContilNet
“Sim, então, como eu disse, todas as prisões foram realizadas em função da morte de Yara. Não há nada relacionado ao desaparecimento da criança nessa operação de hoje. Foram, na verdade, três mulheres que estavam presentes naquele momento da tortura da Yara, antes de executá-la. São pessoas que estavam diretamente envolvidas na morte”, disse o delegado.
Leonardo também falou sobre o boato que se espalhou a respeito do envolvimento da vítima com a falsa morte da criança.
“Essa questão do boato, pelo que conseguimos descobrir até o momento, foi uma notícia que começou a circular alguns dias antes da morte de Yara. Seria um morador que teria visto uma pessoa jogando um saco de lixo na região, mas não teria sido naquele dia da morte. E essa pessoa, por causa dessa conversa do morador, falou que parecia Yara e, depois disso, já deduziram que teria sido ela. Mas, na verdade, o local onde isso foi jogado é um lugar onde muitas pessoas vão para jogar lixo. Então, o que foi levantado até agora é que houve uma confusão e, desse boato, deduziram que ela teria jogado a vítima, a filha dela, naquele local”, acrescentou.
O delegado confirmou que as pessoas envolvidas na morte fazem parte de uma facção criminosa.
“Todas, exceto o marido, que teve a prisão decretada, e o irmão, são pessoas ligadas à facção criminosa”, salientou.
Desaparecimento da criança
Sobre a criança, que ainda está desaparecida, a polícia diz que segue com as investigações e espera que ela esteja viva. O delegado evitou dar mais informações para não atrapalhar o processo.
“Estamos verificando isso, até essa operação, para tentar levantar informações sobre isso. Agora, o que foi levantado, assim, não sabemos ainda o paradeiro da criança, não podemos afirmar se ela está ou não viva, mas achamos que… esperamos também que ela esteja viva. Mas, em relação à criança, há informações que é melhor não ar no momento para não atrapalhar a futura investigação”, destacou.

Pelo que foi apurado, o ex-companheiro da vítima e pai da criança “estava na casa de Yara no momento em que ela estava sendo torturada”/Foto: Reprodução
Sobre os capturados, o delegado afirmou que a maioria são pessoas que participaram diretamente da morte dela, tanto da tortura quanto da execução.
“Mas também há um preso que seria, em tese, uma liderança que poderia ter ordenado a morte dela”, pontuou.
Pelo que foi apurado, o ex-companheiro da vítima e pai da criança “estava na casa de Yara no momento em que ela estava sendo torturada”. O delegado acredita que ele não participou da execução.
“Em relação ao momento da execução em si, não. Agora, no momento antes da execução, ele estava presente.”
“Na tortura ele estava presente?”, perguntou um dos jornalistas.
“Sim, ele estava lá na casa. Quando foi ouvido a primeira vez, sempre negou que isso teria… Ele sempre disse que nem se aproximou do local, mas isso já foi comprovado”, finalizou.