O alto preço praticado na venda de uísques, vodkas e gins de marcas de alto padrão não é mais garantia de originalidade dos drinks, ao menos em adegas espalhadas pelas periferias de São Paulo. As garrafas das bebidas são compradas de um bando especializado em falsificá-las, mas comercializando-as com valores idênticos aos de marcas de alto padrão.
Isso porque a Polícia Civil desvendou um esquema milionário, no qual uma organização criminosa — cujo líder atuava no interior de São Paulo — usava bebidas de baixíssima qualidade para envasar garrafas de marcas badaladas. Para isso, de acordo com investigações do 42º DP (Parque São Lucas), os criminosos usavam uma marca de uísque, por exemplo, cujo litro custa R$ 5 e o revendia, como um produto de alto padrão, por R$ 200.

Divulgação/Polícia Civil
Para garantir que tanto o lojista como o consumidor não percebessem a baixa qualidade das bebidas, o bando usava um coquetel químico, que camuflava o sabor dos drinks, deixando-os semelhantes aos originais.
A dimensão do esquema milionário começou a ser desvendada em 21 de janeiro, quando policiais do 42º DP prenderam em flagrante Anderson Alex da Silva em uma favela da zona leste paulistana. No imóvel ocupado pelo suspeito, como consta em registros oficiais, a polícia apreendeu cerca de 5 mil garrafas — entre uísque, vodka e gim — que seriam distribuídas para adegas das zonas norte, sul e leste da capital paulista.
“Ele lavava, envasava, etiquetava, lacrava e distribuía as bebidas fake para toda a cidade de São Paulo, quase 90% das adegas de periferia são abastecidas com essas bebidas”, explicou um policial que acompanha o caso, em condição de sigilo.
Como era o esquema
- As investigações do 42º DP mostram que a quadrilha usava bebidas de baixíssima qualidade.
- Os criminosos acrescentavam, a essa bebida, produtos químicos para deixar o sabor semelhante ao de marcas de alto padrão.
- “Pegavam bebidas que a garrafa custa R$ 5, usavam o conteúdo delas, misturado com um coquetel químico, e revendiam a R$ 200”, acrescentou o policial.
Negócio milionário
A Justiça autorizou a quebra do sigilo telemático do celular de Anderson, por meio do qual a Polícia Civil pôde entender a dinâmica, dimensão e atores do esquema.
Com base na troca de mensagens entre criminosos, identificou-se o empresário Alerrandro Adriano de Andrade Araújo como o “patrão” da organização criminosa. Ele foi preso nessa quinta-feira (29/5), em Monte Alto (assista abaixo), uma das três cidades do interior paulista onde a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão, na segunda fase da Operação Parece Mas Não É. Os outros dois municípios são Americana e Santa Bárbara d’Oeste.
“O Alerrandro ‘é fortaleza’ do esquema, o patrão. Ele distribui a bebida fake, como se fosse importada, para Minas Gerais e para adegas da capital [paulista], e por todo o estado [de São Paulo]. É um comércio milionário de bebida fake”, pontuou o policial ao Metrópoles.
Na casa dele, a polícia encontrou garrafas de bebidas já falsificadas, prontas para a venda, além de caixas de marcas de alto padrão, além de galões com centenas de litros de uísque e vodka de baixa qualidade. Alerrandro mantinha em Monte Alto uma lanchonete e uma loja de conveniência.
A investigação segue em curso. Até o momento, a polícia identificou outros três importantes membros da quadrilha, responsáveis pela aquisição de garrafas de marcas caras, das etiquetas e lacres delas, além da bebida de baixa qualidade, “batizada” e revendida como original.
Um galpão de grandes dimensões também foi alvo da operação dessa quinta-feira. A polícia apura o eventual uso dele pela quadrilha.
As defesas dos dois presos mencionados nesta reportagem não foram localizadas. O espaço segue aberto para manifestações.