2 de junho de 2025

Orfãos por feminicídio: quase 120 filhos tiveram suas mães assassinadas em seis anos no Acre

Dados do Ministério Público revelam que a maioria das vítimas era jovem, mãe e parda; 24 crianças presenciaram o assassinato das próprias mães

No segundo domingo de maio, enquanto muitas famílias celebram o Dia das Mães com carinho e homenagens, 118 filhos no Acre carregam um luto silencioso: o da ausência materna provocada pela violência extrema do feminicídio. Entre janeiro de 2018 e janeiro de 2024, 71 mulheres foram assassinadas no estado por motivações de gênero. Dessas, 72% eram mães — e deixaram para trás filhos órfãos, cujas vidas foram marcadas para sempre.

Os dados fazem parte do Feminicidômetro, ferramenta do Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) criada para garantir transparência e controle social sobre os crimes de feminicídio. O levantamento mostra que, entre as crianças e adolescentes afetados, 24 presenciaram o assassinato de suas mães, um trauma profundo que tende a reverberar por toda a vida.

Pelo menos 72% das mulheres assassinadas tinham filhos, deixando 118 crianças e adolescentes órfãos/Foto: Reprodução

A maioria das vítimas tinha entre 20 e 24 anos — uma geração jovem, muitas vezes iniciando a maternidade e a vida adulta, que teve seus planos interrompidos por parceiros ou ex-companheiros violentos. O estudo também revelou um cenário de vulnerabilidade social e racial: 86% das mulheres assassinadas eram pardas ou pretas, refletindo o impacto desproporcional da violência de gênero sobre mulheres negras.

A análise do MPAC também abordou o perfil conjugal das vítimas: 45% estavam em um relacionamento no momento do crime, enquanto 24% já haviam se separado ou estavam em processo de separação — o que reforça o alerta de que o momento de rompimento costuma ser um dos mais perigosos para mulheres em situação de violência.

No aspecto profissional, a maioria das mulheres assassinadas era dona de casa (21), seguida por estudantes (10), autônomas (6) e agricultoras (4). Em 12 casos, a ocupação não foi informada, o que pode indicar informalidade ou falta de registro de dados adequados.

Mulher é morta na frente do filho

Janice da Rocha Lima, de 40 anos, foi executada a tiros, e seu filho, Jhonatas Lima Pinto, de 21 anos, ficou ferido com dois disparos na noite do dia 9 de abril, dentro de um apartamento situado na Rua Seis de Agosto, no bairro 6 de Agosto, no Segundo Distrito de Rio Branco. O autor dos crimes foi o ex-marido de Janice, identificado como Gilberto Francisco.

Mulher morreu dentro de seu apartamento/Foto: ContilNet

Segundo informações de familiares, Janice estava no apartamento com seu filho, Jhonatas, quando Gilberto chegou em uma motocicleta modelo Lander, de cor vermelha. Ele estacionou na rua e seguiu até o imóvel. Em seguida, sacou uma arma de fogo e efetuou pelo menos cinco disparos, que atingiram Janice na região do peito e do rosto. Durante o ataque, Jhonatas foi atingido por dois tiros — um no braço direito e outro no esquerdo. Após a ação, Gilberto fugiu do local.

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado, e duas ambulâncias foram enviadas — uma de e básico e outra de e avançado. No entanto, ao chegarem, os paramédicos apenas puderam constatar o óbito de Janice. Jhonatas recebeu os primeiros atendimentos ainda no local e foi encaminhado ao pronto-socorro de Rio Branco, em estado de saúde estável.

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