O caso da adolescente de 15 anos que morreu no Distrito Federal devido a complicações causadas pelo uso de cigarro eletrônico levanta um alerta sobre os malefícios do uso do aparelho. Especialistas ouvidos pela reportagem advertem sobre os riscos de saúde causados pelos conhecidos “vapes” ou “pods”.
Entenda o caso
- Uma menina de 15 anos morreu nessa quarta-feira (28/5) por complicações causadas pelo uso de vape.
- Em 18 de maio, ela teve diagnóstico de Pneumonia Comunitária, Pneumonia por Influenza A e Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Produtos de Vaping ou Cigarro Eletrônico (EVALI).
- A adolescente ou por atendimento no Hospital Cidade do Sol e no Hospital Universitário de Brasília.
- Como ou a precisar de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), foi transferida para o Hran.
- A suspeita clínica é que a menina tenha sido acometida por EVALI.
- A confirmação da causa da morte só poderá ser feita após a necrópsia do corpo.
Populares entre o público jovem, os cigarros eletrônicos têm ganhado cada vez mais adeptos no Brasil. Embora sejam comercializados como uma alternativa menos prejudicial ao cigarro tradicional, o vape também contém substâncias tóxicas que, a longo prazo, podem causar doenças pulmonares graves e problemas cardiovasculares.
No entanto, por trás do aspecto moderno, está o mesmo problema. Geralmente, a concentração de nicotina nos cigarros eletrônicos é bem superior ao cigarro tradicional, aumentando o risco de dependência.
O pneumologista e professor de medicina da Unieuro, Sérgio Santos, cita que entre os principais problemas causados pelos cigarros eletrônicos estão as lesões pulmonares agudas, como a EVALI (lesão pulmonar associada ao uso de vaping), que pode causar inflamações severas nos pulmões e levar à insuficiência respiratória.
Além disso, o uso contínuo dos dispositivos pode gerar inflamações crônicas nas vias aéreas, favorecer quadros de bronquite e aumentar o risco de infecções respiratórias. Há também efeitos cardiovasculares, já que a nicotina — presente na maioria dos líquidos usados nos vapes — eleva a pressão arterial e a frequência cardíaca.
De acordo com a pneumologista Izabel Diniz, médica do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), nos vapes, a substância líquida é aquecida por uma resistência elétrica e chega a temperaturas de até 300 °C, formando o vapor inalado. Essa temperatura elevada por si só já pode provocar uma lesão da mucosa respiratória.
Ela explica que o sistema imunológico é programado para reagir a qualquer substância inalável estranha — e isso inclui os compostos químicos presentes no vape. Ao chegar ao pulmão, essas partículas podem disparar uma inflamação em cascata, uma reação de defesa que, em excesso, pode causar danos permanentes.
“Quando a inflamação acontece, o corpo pode reagir de formas muito diferentes. Algumas pessoas desenvolvem doenças graves e até fatais, outras não. Isso depende do comportamento do sistema imunológico de cada um”, afirma o médico. Com o uso contínuo, essas inflamações podem destruir progressivamente o tecido pulmonar, evoluindo para doenças como a bronquiolite.
A especialista também faz um alerta específico para os jovens: “Quanto mais jovem, maior a presença de receptores de nicotina no cérebro, o que eleva consideravelmente o risco de desenvolver dependência precoce”.
Ele relata receber muitos adolescentes no consultório que não entendem como os dispositivos funcionam e só percebem o problema quando já estão apresentando sintomas respiratórios como falta de ar, dor no peito, ou infecções respiratórias recorrentes. “Muitos tentam parar, mas já não conseguem. Isso por si só já é um sinal claro de dependência”, esclarece.