A professora da segunda série pediu aos alunos que enfeitassem um pequeno bilhete e que inventassem uma frase com os dizeres: “mãe só tem uma”, para compor a lembrancinha que seria entregue às mães no Dia das Mães. Eis que Joãozinho surpreende e apresenta, junto ao bilhete azul com flores e corações, o seguinte texto:
Minha mãe mandou eu buscar duas cervejas na cozinha, eu abri a geladeira e respondi: “mãe, só tem uma! “.
Estamos em 2025 e podemos itir que essa piada envelheceu. Uma anedota envelhece quando o contexto em que ela foi escrita não corresponde ao contexto atual de quem a ouve ou lê. Histórias como a do casal Rosa Helena e Eduarda nos comprovam que existem famílias sortudas onde mães não são só uma, mas podem ser duas.

Duda, Esther e Rosa Helena, respectivamente / Reprodução
Rosa Helena é acreana, mas em 2004, se mudou a trabalho para Mato Grosso do Sul, onde conheceu sua atual esposa, Eduarda, na cidade de Camapuã. Apresentadas por uma amiga em comum, elas se conheceram, começaram a namorar e decidiram dividir a vida juntas em 2005.
12 anos depois, a vontade de aumentar a família tomou conta do coração do casal, que começou a amadurecer a ideia, pensando qual seria a melhor possibilidade para a realização do sonho.
“A gente foi pesquisando as formas, adoção ou a inseminação, como a gente faria, o que a gente faria. Então, nós optamos pela adoção. Na época, nós morávamos no Mato Grosso do Sul, no interior, e o judiciário já estava bem mais aberto para adoção para casais homossexuais. Então, a gente sentiu um acolhimento muito grande do fórum e da assistente social que atendeu a gente”, afirmou Rosa Helena.

Esther pronta para o Domingo de Ramos / Foto: Cedida
Para adotar uma criança no Brasil, o primeiro o é procurar a Vara da Infância e Juventude e se inscrever no Cadastro Nacional de Adoção. É necessário apresentar documentos e ar por entrevistas com assistente social e psicólogo, além de participar de um curso preparatório obrigatório. Se for considerado apto, o nome entra no cadastro e o candidato aguarda o perfil compatível da criança.
“Nós optamos por que fosse uma criança, independente do sexo, de 0 a 3 anos. Conseguimos entrar na fila a adoção e começamos a acompanhar. ” relatou, Rosa Helena.
Porém, o sentimento de ansiedade para essa nova jornada presente no início do processo, foi dando lugar a uma sensação de descrença e desistência. Por se tratar de uma situação sensível e delicada, a burocracia e a resolução de todo mecanismo muitas vezes se dá em um ritmo lento, levando pessoas a esperarem anos na fila de cadastro, o que aconteceu com Rosa e Duda.
“Eu lembro até que eu achei que seria do dia para a noite e é um processo que é demorado. A gente mora no Rio de Janeiro, em Cabo Frio, desde 2020, e nada do processo. A gente combinou que no final de 2023, a gente sairia da fila, porque já seriam cinco anos na fila e nada. E aí, em janeiro de 2023, que o nosso telefone tocou. E ali foi o momento que ela nasceu para a gente. ”

Registro do dia em que as três se encontraram pela primeira vez / Foto: Cedida
Rosa e Duda viajaram de volta ao Mato Grosso do Sul para conhecer Esther. “Quando a gente chegou lá, a gente sabia que ela era a nossa filha. É a coisa mais linda da nossa vida e é o amor da nossa vida” conta Duda em depoimento comovente.
Esther tinha oito meses quando encontrou o novo lar. Obviamente que adotar uma criança envolve muito mais do que amor e carinho — exige também preparo e aprendizado prático. Foi esse o principal desafio enfrentado pelas mães ao receberem a pequena Esther, hoje com quase três anos.
Segundo elas, tarefas como cuidados médicos e rotina de bem-estar exigiram adaptação e dedicação. “É no dia a dia que a gente aprende a ser mãe, a ensinar valores, a formar um ser humano do bem”, afirmou. Mesmo com as dificuldades, elas afirmam que, juntas, têm superado os desafios de criar uma criança esperta, amorosa e cheia de personalidade.

Família Reunida / Foto: Cedida
A experiência da maternidade transformou completamente suas vidas. “A maior lição é o amor incondicional, aquele que te faz dar a vida por esse serzinho”, contou, Rosa Helena emocionada. Com a chegada de Esther, as prioridades mudaram, as noites de sono diminuíram, mas o sentimento compensou tudo. Para ela, o amor recebido da filha é indescritível. “É bom demais. A gente faria tudo por eles — o que está ao nosso alcance e até o que não está”, concluiu.
Agora, inspirado nessa belíssima história, poderíamos contar a piada de Esther:
Minha mãe mandou eu pegar minhas três canetas para escrever uma carta, eu fui no meu quarto e falei: “Mãe, só tenho duas”