31 de maio de 2025

‘Empate’ pode reacender conflito entre seringueiros e fazendeiros em Xapuri

Apesar de pacífico, movimento causou a morte de Wilson Pinheiro e Chico Mendes, além de outras lideranças dos trabalhadores na região do Alto Acre

O movimento de seringueiros do Alto Acre conhecido como “Empate”, que revelou ao mundo lideranças ligadas ao meio ambiente como a atual ministra Marina Silva, cuja carreira política foi iniciada como vereadora em Rio Branco, e o sindicalista Chico Mendes, assassinado em 1988, em Xapuri, poderá vir a ser reeditado nos próximos dias. O “Empate” foi um modo de resistência pacífica criado por sindicalistas como Wilson Pinheiro e Chico Mendes, assassinados a tiros num período de oito anos entre um crime e outro, exatamente pelas causas que defendiam, através da resistência pacífica entre os anos 1970 e 1990.

A última vez que o movimento foi utilizado na região do Alto Acre foi em 1990/ Foto: Reprodução

A estratégia visava impedir o desmatamento da região, que estava sendo destruída por fazendeiros interessados na substituição da vegetação florestal pelo capim para servir de pasto para gado. Os seringueiros se organizavam sob a liderança do Sindicato dos Trabalhadores e realizavam empates para proteger as florestas e suas terras, acampados à sombra das árvores marcadas para serem derrubadas, inclusive acompanhados de suas mulheres e filhos. Os trabalhadores encarregados do desmatamento, muitas vezes amigos e até parentes dos homens acampados sob as árvores, acabavam por desistir das derrubadas e, aos poucos, o movimento de seringueiros ia se estabelecendo até se tornar referência de resistência pacífica, comparada à mesma utilizada na independência da Índia do Império Britânico na década de 1930 por Mohandas Gandhi.

A última vez que o movimento foi utilizado na região do Alto Acre foi em 1990, sob a liderança do sindicalista Raimundo Mendes de Barros, primo e substituto de Chico Mendes naquele movimento. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, então professora e militante petista e aliada à causa dos seringueiros, chegou a participar dos “Empates”.

Nos anos de 1980, a atual ministra Marina Silva liderou um grupo de mulheres na resistência Pacífica do Empate/ Foto: Reprodução

Nos dias atuais, o movimento pode ser reeditado na fazenda de nome “Soberana”, que fica dentro da área do Seringal Santa Fé, numa região onde moram entre 40 a 50 famílias, algumas delas instaladas no local faz até meio século, com as terras ando de geração em geração.

De acordo com as denúncias do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, um fazendeiro, que não teve a identidade revelada, e que se diz dono da “Fazenda Soberana”, vem ameaçando os seringueiros de expulsão porque manifesta o desejo de explorar o potencial madeireiro da área da qual se diz proprietário. Os seringueiros argumentam em contrário, dizendo que a fazenda não pertence de fato ao fazendeiro e que a derrubada de florestas e de árvores para madeireiras prejudica quem vive ali, por espantar caças cuja proteína é utilizada na dieta dos seringueiros, além de impedir o corte de seringa e a colheita da castanha, que são as bases da sobrevivência de quem vive ali. As denúncias informam que o fazendeiro vem usando até forças policiais em suas ameaças contra o movimento de seringueiros, uma prática dos velhos tempos.

Um homem que pediu para não ter seu nome divulgado revelou que, por causa do constrangimento feito por policiais, o pai dele abandonou a terra com depressão e foi morar na cidade. Em poucos dias, o homem foi assassinado. E o pior: estão correndo também o risco de perderem suas moradias. Os seringueiros devem procurar a superintendência regional do Incra no Acre, em Rio Branco, para pedirem a intervenção do órgão que cuida da Colonização e Reforma Agrária no país.

Os seringueiros devem oferecer uma proposta ao Incra: arrecadaria a terra e deixaria as famílias no mesmo local como assentados. O superintendente do Incra no Estado, Márcio Rodrigo Alecio, disse que é possível a proposta. Segundo ele, assim que receber a documentação formal sobre o caso, vai abrir um processo de análise. A área da Fazenda Soberana vem gerando conflitos há mais de 8 anos. “O que é preciso é buscar uma solução antes que vire um cenário de violência”, disse o superintendente. “Em regra, o nosso trabalho de desapropriação, que foi retomado pelo presidente Lula, já que no governo anterior essa atividade havia sido paralisada por completo, parte de estudos técnicos que a nossa equipe realiza no estado do Acre. E aí nós temos alguns estudos em andamento, e também a partir da reivindicação do movimento social, dos trabalhadores rurais. E aí tem grande diferença se uma área já está ocupada, se ela não está ocupada. Tem que verificar se ela é considerada produtiva ou improdutiva”, acrescentou o superintendente.

PUBLICIDADE

Bloqueador de anuncios detectado

Por favor, apoie-nos desativando sua extensão AdBlocker de seus navegadores para o nosso site.