Viver Sem Limites
Era para ser mais um dia comum de aula. Mas, em uma escola de ensino fundamental no interior do país, um episódio inusitado e preocupante interrompeu a rotina: um aluno, em desacordo com as ideias de um colega, arremessou uma cadeira durante a aula. O que ele não esperava era que o objeto, ao ricochetear, o atingisse em cheio. O caso foi parar na Justiça. A família do próprio aluno entrou com um processo contra a escola, alegando falha na supervisão e na condução pedagógica.
Não estamos aqui para julgar. Como você mesmo esteja pensando nesse momento: “não sou juiz de ninguém”. E talvez seja justamente por isso que essa história nos convida a refletir: até onde vamos com a nossa utopia da liberdade?
A liberdade sem direção
Vivemos em uma era onde a liberdade é celebrada — e com razão. Mas quando ela vem desacompanhada de responsabilidade, de limites, de escuta, ela pode se tornar um risco. Um dia li de um filósofo: “A liberdade irrestrita de uns pode significar a ausência de liberdade para outros”.
O escritor brasileiro Rubem Alves dizia:
“A educação é como um jardim: exige cuidado, poda, limites. Sem isso, vira mato.”
E é exatamente isso que temos visto: crianças crescendo em ambientes onde tudo é permitido, onde o “não” é evitado, onde regras são vistas como opressão. O resultado? Dificuldade de lidar com frustrações, com opiniões divergentes, com o outro — e até consigo mesmo.
Segundo uma pesquisa da Associação Americana de Psicologia (APA) mostram que a ausência de limites claros na infância está diretamente relacionada ao aumento de comportamentos impulsivos e agressivos. Em um estudo publicado internacionalmente revelou que crianças que não aprendem a lidar com regras e consequências têm maior propensão a desenvolver transtornos de conduta e dificuldades de socialização.
A escola deveria ser um espaço de aprendizado — não apenas de conteúdos, mas de convivência. Quando um aluno agride outro (ou a si mesmo, ainda que sem intenção) por discordar de ideias, algo falhou. Não apenas na escola, mas em toda a rede de apoio que deveria prepará-lo para o convívio social.
E volto novamente falando sobre a minha Liberdade. Como dizia Cecília Meireles:
“Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.”
Mas será que estamos ensinando nossas crianças a entender o verdadeiro significado da liberdade?
O educador Paulo Freire dizia que “educar é um ato de amor, por isso, um ato de coragem”. Amar é também ensinar limites. É mostrar que viver em sociedade exige respeito, escuta, empatia. É ensinar que liberdade não é fazer tudo o que se quer, mas saber escolher o que é certo — mesmo quando ninguém está olhando.
O que estamos plantando hoje, colheremos amanhã. A criança que cresce sem limites, sem escuta, sem noção de consequência, se torna o adulto que não respeita o outro, que não sabe dialogar, que não reconhece fronteiras — nem as suas, nem as dos outros. De onde vem tanta doença, tanto estresse, tantos divórcios, tantos zumbis, tantas depressão, tanta ansiedade, tantas…tantas….? Esqueceram que há limites.
Você que é pai/mãe como eu, já está em pânico, mas há esperança. Sempre há. Cada conversa como essa, cada reflexão, cada mudança de postura — por menor que seja — já é um o. Podemos (e devemos) ensinar nossas crianças a serem livres, sim. Mas também a serem responsáveis, éticas, humanas. Há LIMITES sim.
E concluo afirmando que, viver sem limites pode parecer liberdade. Mas, no fundo, é só mais uma forma de se perder de si mesmo.
Afirmo.
Maysa Bezerra
Estrategista & Storyteller