Essa semana atendi uma pessoa que estava incrédula sobre o valor que deveria pagar de uma conta que é atualizada pela taxa de juros Selic. Uma dívida que ele vem pagando há 2 anos e acreditava que o valor pago da parcela estava mais caro do que o devido. E se fosse você no lugar dele, saberia como checar se esse valor estava abusivo ou não? A dose dessa vez é sobre isso, vem comigo.
Primeiro, é bom registrar que a taxa de juros SELIC é a taxa de rentabilidade que move toda a economia do Brasil, seja para quem esta devendo ou investindo dinheiro. É com base nela também que você deve se basear quando pensa no custo oportunidade para tomar uma decisão. Explico através de um exemplo. Esta na dúvida se amortiza (diminui o saldo devedor da dívida) um financiamento de 8% ao ano agora ou investe esse valor em uma aplicação financeira corrigida pela Selic que hoje esta em 14,25% ao ano? Eu investiria o valor porque no momento ele renderia mais do que amortizar. Ou ainda, pense naquela troca de celular que você está namorando há meses e custa R$ 4.000. Você tem o dinheiro guardado. A decisão parece simples: comprar ou não comprar? Mas, usando o custo de oportunidade e a Selic (nosso exemplo de 14,25% a.a.) como referência, a pergunta muda: o benefício imediato desse novo celular é mais valioso para você do que ter aproximadamente R$ 4.570 daqui a um ano se investir esse valor? Ao gastar os R$ 4.000 agora, você está ‘abrindo mão’ dos R$ 570 que seu dinheiro renderia com baixo risco. Não significa não comprar, mas sim entender o ‘custo invisível’ da sua escolha. A Selic serve como régua para avaliar se outras opções realmente valem a pena.
Mas, entendida a importância da Selic como nosso termômetro econômico e balizador do custo de oportunidade, como voltamos ao problema inicial? Como saber se a correção daquela dívida do meu cliente – ou a sua, caso tenha alguma indexada pela Selic – está correta? Afinal, como ele percebeu, o valor pode sim aumentar bastante ao longo do tempo, acompanhando as altas da taxa.
É aqui que entra uma ferramenta oficial, gratuita e fundamental disponibilizada pelo Banco Central do Brasil: a Calculadora do Cidadão. Você a encontra facilmente no site do BCB (bcb.gov.br).
Essa calculadora tem várias funções, mas a que nos interessa para este caso é a de Correção de Valores. Com ela, você pode fazer exatamente o que precisamos: pegar um valor original (seja o saldo devedor inicial, o valor de uma parcela em determinada data), informar o período (data de início e data de fim) e selecionar o índice de correção – neste caso, a Taxa Selic. A ferramenta aplicará toda a variação acumulada da Selic, mês a mês, naquele período e te dará o valor atualizado com precisão.
Isso explica a sensação do meu cliente. Nos últimos anos, tivemos um ciclo de alta expressiva da Selic. Usando um exemplo bem simplificado para ilustrar: se a taxa Selic acumulada nos últimos dois anos fosse de aproximadamente 25% (atenção: este é um valor hipotético apenas para o exemplo), uma parcela ou um saldo devedor que era de R$ 100,00 no início desse período, ao ser corrigido, aria para cerca de R$ 125,00 hoje. A Calculadora do Cidadão faz essa conta considerando as taxas exatas de cada mês, mostrando o impacto real no valor devido.
Portanto, antes de concluir que há um erro ou abuso na cobrança, o primeiro o é usar a Calculadora do Cidadão para conferir a correção. Ela traz transparência e te ajuda a verificar se o cálculo está seguindo o que foi contratado e a variação oficial da Selic. Tomou essa dose?! Até a próxima.
