Miúdo, mas altamente venenoso e perigoso, podendo inclusive ser letal, acaba de ser descoberto na Amazônia, na bacia hidrográfica do Juruá, na região acreana que leva o mesmo nome do rio, um tipo de sapo até então desconhecido pela ciência. Exemplar capturado pelos cientistas para amostras revelou que o sapo, inclusive seus girinos, é altamente venenoso.
O alerta foi feito por uma equipe de pesquisadores da vida selvagem do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que descobriu a espécie em colaboração com um colega do Museu Nacional da República Tcheca. A princípio, a espécie foi chamada de sapo-flecha-venenoso, cujo habitat natural é a floresta amazônica brasileira. O grupo se aventurou nas profundezas da floresta tropical para aprender mais sobre espécies que vivem em partes ainda isoladas da selva. O estudo foi publicado no periódico PLOS ONE.

Ainda na selva, os pesquisadores fotografaram e filmaram o sapo em seu habitat natural/ Foto: Reprodução
Apesar dos extensos esforços de pesquisa, muitas partes da floresta amazônica permanecem pouco estudadas devido ao seu isolamento. Nesta nova empreitada, os pesquisadores primeiro voaram em um pequeno avião e, em seguida, fizeram uma viagem de barco de 10 horas pela bacia do Rio Juruá, seguida por uma longa caminhada pela floresta tropical com guias locais. Isso os levou a uma área dominada por palmeiras.
A análise de DNA revelou que o sapo era uma nova espécie do gênero Ranitomeya. A equipe prontamente o batizou de Ranitomeya aquamarina, em homenagem à sua característica dominante: longas linhas azul-celeste ao longo do corpo. O sapo também possui pernas cor de cobre com manchas marrons e uma cabeça mais larga do que longa.
Ainda na selva, os pesquisadores fotografaram e filmaram o sapo em seu habitat natural. Descobriram que ele emitia um chamado de acasalamento único, composto por 16 a 35 notas, com duração de oito a 16 milissegundos. O novo sapo, como a maioria dos sapos-dardo-venenosos, é minúsculo, com apenas cerca de 1,5 a 1,7 centímetros. Ele também representa a primeira nova espécie a ser adicionada ao gênero em 10 anos.
A equipe observou que os sapos eram geralmente mais ativos no início e no final do dia, embora mudassem sua rotina durante os períodos de chuva. Notaram também que os sapos tendem a viver entre bananeiras-bravas e frequentemente se escondem sob folhas de palmeira caídas. Eles foram observados apenas em uma pequena parte da floresta.
No texto de descrição completa do animal, publicado na revista científica ZooKeys, os pesquisadores afirmam que a diversidade de rãs ainda é muito pouco conhecida na Amazônia, especialmente na região do baixo e médio Rio Juruá.
“Embora estejamos apenas dando os primeiros os para desvendar a biodiversidade desta área, já temos evidências da extraordinária riqueza da fauna local e já identificamos muitas novas espécies candidatas”, apontam.
Em uma publicação no Instagram, Alexander Tamanini Mônico, pesquisador de pós-doutorado pelo Inpa, compartilhou fotos da espécie e um texto, no qual afirma:
“Pessoalmente, essa descoberta trouxe desafios, crescimento e, acima de tudo, esperança”.