2 de junho de 2025

A discreta filantropia da casa de apoio “Amigos do Betão” acolhe dependentes químicos no Acre

Discreto, como todo filantropo que se preze, “Betão” mantém quase sob sigilo a casa de acolhimento para pessoas viciadas em drogas, e que vivem nas rua

Eles já foram muitos e muitas, mais de quatro dezenas de pessoas que antes viviam nas ruas, ando todo tipo de privação, e que encontraram apoio e um lar onde não apenas aram a ter uma referência, com três refeições diárias, um canto limpo para dormir e condições de higiene, mas também receberam tratamento adequado para desintoxicação de drogas e bebidas alcoólicas, além de treinamento para ingressar no mercado de trabalho. Hoje, são apenas 14 pessoas — três mulheres e 11 homens — que, além de estarem trabalhando, já ajudam crianças autistas com a prática da equoterapia, o uso de cavalos em tratamentos terapêuticos.

Empresário Betão conversando com internos na casa de recuperação/Foto: ContilNet

Sob a sombra de mangueiras frondosas, refrescada pela brisa natural do rio Acre, em cujas margens, no bairro Belo Jardim, rodeada por flores de um belo e bem cuidado jardim, está situada a Casa de Apoio “Amigos do Betão” — um lugar onde moram juntas, num casamento perfeito, a solidariedade e a compaixão. Aquele cenário bucólico é abrigo de dezenas de homens e mulheres, jovens, adultos e idosos que, antes, viviam nas ruas como condenados ao sofrimento — e muitos já a caminho da morte.

A beleza do lugar faz jus à referência e ao endereço onde essas pessoas têm a chance de recomeçar, de voltar a sonhar em ter a própria vida de volta.

Os internos falam da alegria de ter um lar com comida, dormida e acolhimento/Foto: ContilNet

A casa também é um retrato pouco conhecido de uma figura icônica do comércio e do empreendedorismo local: o empresário e pecuarista Edilberto Afonso Pinheiro Moraes, o “Betão”. Apontado como sisudo e duro na hora de fazer negócios, há anos ele destina parte do que ganha para investir em solidariedade àquelas pessoas condenadas pela pobreza, pela fome e pelo vício, numa ação caridosa que herdou dos pais — seu Chico Pinheiro e dona Maria Cleomar Medeiros de Moraes, ambos já falecidos —, um casal de acreanos religiosos e devotos da caridade franciscana, segundo a qual é preciso sempre fazer o bem, sem olhar a quem.

Por isso, a discrição quanto à existência da casa “Amigos do Betão” e dele próprio, que só fala da ação a amigos mais próximos. Discreto, como todo filantropo que se preze, “Betão” mantém quase sob sigilo a casa de acolhimento para pessoas viciadas em drogas e que vivem nas ruas. O empresário quer, agora, construir um abrigo para idosos em situação de vulnerabilidade.

Na “Casa Amigos do Betão”, é possível encontrar gente bem cuidada, de banho tomado, penteada, asseada e alimentada — imagens que agora contrastam com aquelas de pessoas visivelmente esfomeadas, sujas e malvestidas, em busca de lixo onde pudessem encontrar algo que aliviasse a fome ou algum objeto para vender e transformar em recursos que permitissem a aquisição de drogas. Gente que, ao chegar ali, exibia chagas nos pés — em um ou nos dois —, verdadeiras feridas abertas, de tanto andarem descalços sobre o asfalto quente em busca de qualquer coisa: droga ou comida no lixo, que garantisse os instantes seguintes.

É o caso de Alexsandro Conceição da Silva, de 51 anos, natural de Tarauacá, que, nos últimos cinco anos, viveu nas ruas de Rio Branco, drogado. “Eu era empresário individual, me envolvi com drogas e, nos últimos cinco anos, estava em situação de rua”, disse. Alex, como é conhecido, chegou à “Casa Amigos do Betão” em 11 de dezembro de 2024 e hoje é o monitor da escola de informática do local e auxilia na istração do espaço.

Como recomeço de vida, há mais de seis meses ele está sóbrio. Era obeso, emagreceu e até pôde levar para o abrigo sua esposa, Maria da Silva Sousa, com quem já era casado antes da internação. Juntos, sonham com um futuro fora da casa de apoio, mas com o propósito de se tornarem voluntários para ajudar quem precisa em outros espaços. Aliás, essa é a filosofia da “Casa Amigos do Betão”: os internos que se sentirem seguros para voltar às ruas e enfrentar o mercado de trabalho podem sair, dando lugar a outros. “Assim, de dois anos para cá, os internos mudaram muito. Uns desistiram do tratamento, outros foram trabalhar fora do Estado”, contou Alex.

Outro exemplo de superação é o da terapeuta Vick Gonzalez, que chegou ao local como paciente interna e, hoje, sóbria, é auxiliar e diretora interina da casa. Há ainda o caso de Ueliton Fernandes, de 38 anos, que também chegou como interno e hoje é um dos coordenadores do “Projeto Eu Acredito”, que utiliza cavalos na terapia conhecida como equoterapia, com crianças autistas. Alguns internos da “Casa Amigos do Betão”, já em fase de reintegração social, vêm estagiando em uma instituição parceira, num rancho localizado na Rodovia AC-40, km 11, Ramal Santa Maria, nos arredores de Rio Branco.

Ali, crianças com autismo fazem equoterapia com trabalho de equitação monitorado e acompanhado por internos da “Casa Amigos do Betão”. É o caso de Sebastião Leite da Costa, que, após 80 horas de atividades, foi contratado pela direção do rancho como um dos monitores das atividades com as crianças.

O lugar de Sebastião Leite é o sonho de Pedro Henrique, de 28 anos, um dos estagiários de equitação. O trabalho é coordenado por outro interno da casa, Manoel do Nascimento, de 59 anos, o mais antigo residente no local, que se tornou experiente nas atividades de montaria.

Ao abrir as portas da “Casa Amigos do Betão” — como fez em relação à reportagem do ContilNet —, o empresário Edilberto Moraes afirma que não o faz exatamente com o intuito de aparecer, mas para inspirar outros empresários e instituições públicas que possam se interessar em ajudar. “A gente pode um pouco, mas ninguém pode fazer tudo sozinho. Se alguém estiver disposto a ajudar, nós poderemos acolher muito mais pessoas aqui”, disse Betão, cujo sonho agora é criar uma casa de abrigo para idosos necessitados.

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