23 de maio de 2025

Dirigente do MTST acusado de fraudes é alvo de novas denúncias de ameaças e perseguição

Áudios em grupo de aplicativo revelam ironias e chantagens de dirigente do MTST contra ocupantes da invasão, mas ele não menciona denúncias de irregularidades envolvendo a obtenção de imóveis do “Minha Casa, Minha Vida” por seus familiares

“Ainda bem que saí bonito na foto”, disse o dirigente local do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Jamyr Rosas, ao comentar, em grupo de WhatsApp do grupo de ocupantes da invasão “Marielle Franco”, no bairro Defesa Civil, em Rio Branco, a reportagem do ContilNet apontando supostas irregularidades praticadas por ele e o grupo de dirigentes do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) na condução da ocupação. No áudio, ele disse que sofre inveja de membros da ocupação, que há uma tentativa de difamá-lo, se diz inocente nas acusações, mas, em nenhum momento, justifica a inclusão do nome de seus familiares como beneficiários do programa “Minha Casa Minha Vida Entidades”, que deveriam se destinar tão-somente aos ocupantes da invasão e que, no entanto, lá estão listados: sua sogra, cunhadas, primos e amigos, que nunca colocaram os pés na invasão.

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Dirigente local do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Jamyr Rosas,

Jamyr Rosas também não fala aos moradores, no áudio em que comenta a reportagem, das cobranças e da falta de prestação de contas dos alimentos doados à cozinha solidária “Marielle Franco”, que deveria fornecer comida aos ocupantes da invasão e cujas mercadorias estariam sendo desviadas para a sede do PSOL e para a casa de familiares dos dirigentes da sigla, inclusive para a casa da mãe de Jamyr Rosas. O áudio que ele enviou ao grupo de WhatsApp é o seguinte:

“Fiz questão de botar essa matéria aí no grupo para que todo mundo veja a que ponto nós chegamos. É triste, sabe. Nos últimos dias a gente vem trabalhando, toda uma equipe gigante, vem trabalhando muito, muito mesmo, para que tudo se concretize, para que essa cozinha funcione, para atender as famílias… Estamos distribuindo, todo dia, de 200 a 280 refeições. Não só a ocupação Marielle Franco está recebendo como muitos moradores do Defesa Civil; de 70 a 90 refeições estão sendo servidas todo dia lá no bairro da Paz. O tempo que essas pessoas am buscando me criticar, querendo prejudicar e criar problema, elas poderiam dar uma força lá na cozinha, porque tem dia que está precisando. Desviar refeições? Qual o interesse que eu tenho, pessoal, de estar roubando banana, jerimum? Vergonhoso isso aí”, disse.

OUÇA O ÁUDIO: 

Noutra parte do áudio, ele acrescenta:

“Aqui na sede do PSOL, todo mundo sabe que é o depósito da cozinha. Aqui há quatro freezers lotados de comida. Tem sacas de macaxeira… Vem para cá o pessoal, vários moradores, limpar feijão, limpar arroz, descascar macaxeira, cortar jerimum e depois vai para ser utilizado na cozinha. Mas, assim, é vergonhoso, pessoal… Todo mundo aí conhece meu F. Consultem meu F: eu nunca fui processado, nem criminalmente, nem cível. Nunca na minha vida eu tive um processo. Agora, a inveja, a raiva, denúncia… Mas a Justiça é o lugar para chegar lá e mostrar quem deve e quem não deve. Eu tenho certeza de que não devo nada. Por isso, eu ando assim, de cabeça erguida e tranquilo. A boa notícia é que o projeto vai sair. Hoje foram entregues os últimos documentos, o sistema fechou hoje da Caixa. A Prefeitura entregou na Prefeitura, na Caixa Econômica, os últimos documentos e, dentro daquele prazo que eu garanti a vocês, vai ser cumprido. A preocupação dos moradores que estão hoje fazendo essas denúncias anônimas e covardes – o covarde faz denúncia anônima; quem tem coragem vem de frente, fala na cara. A pessoa que não tem caráter nenhum vai fazer denúncia anônima, vai inventar mentiras. Então, essas pessoas têm que estar preocupadas com outras coisas, não com a minha vida. Todo o nosso trabalho é auditado por muitos órgãos. Não é um trabalho que eu invento. Tudo é muito auditado. A matéria é tendenciosa, foi escrita para criar um conflito que não existe. Todas as parcerias são firmadas e, em nenhum momento, a gente utiliza lista para… a lista que vocês assinam quando recebem alimentação não é só vocês que assinam. O bairro da Paz, que recebe, todo dia assina”, disse.

Jamyr compartilhou a matéria no grupo do MTST e enviou um áudio de mais de 4 minutos/Foto: Reprodução

Em áudios anteriores à divulgação da reportagem, quando começaram a surgir as primeiras divergências entre Jamyr Rosas e as pessoas que contestam sua liderança na ocupação, surge uma outra faceta do dirigente do MTST: a do chantagista emocional.

“Na menor discussão, ele ameaça deixar a invasão e que, com sua saída do movimento, o governo retoma a reintegração de posse, e as pessoas voltariam a ser apenas invasoras, sem perspectiva de regularizar suas situações”, disse o representante de um grupo de denunciantes, que teme pela reação de Rosas e pede para não ter seu nome revelado.

“As famílias só faltam se matar de trabalhar de graça pra ele como voluntários na cozinha, porque o Jamyr fala que só vai ganhar casa quem trabalhar como voluntário na cozinha solidária, que de solidária não tem nada. Essa cozinha humilha as pessoas que vão pegar um prato de comida”, acrescenta a denúncia.

“Temos relatos de moradores que já foram humilhados na hora de pegar comida. Uma moradora que foi pedir comida e a esposa do Jamyr Rosas humilhou ela, uma senhora mãe solo e doente”, diz outra denúncia, ao exibir mensagens de celular em que Jamyr Rosas tenta expulsar justamente a moradora que discutiu com sua esposa por causa de comida negada”, revela a denunciante, mostrando print de mensagens ao grupo em que Jamyr Rosas, ao ser questionado ou contrariado, ameaça abandonar o movimento.

“Aqui ele queria expulsar essa moradora que era contra ele. Ninguém podia bater de frente com ele que ele já falava que ia se retirar da ocupação, devolver a área para o Estado e todos nós íamos pra rua, porque o Estado iria fazer a reintegração de posse”, acrescentou a denunciante.

“Mais uma chantagem dele mexendo com o psicológico dos moradores. Queria expulsar um casal com dois filhos pequenos. Esse casal quase foi linchado pela comunidade por causa dele. É chantagem sobre tudo. Qualquer coisa ele fala que vai fechar a cozinha – e fecha mesmo, durante vários dias – e qualquer coisinha fala que vai se retirar da área, devolver a terra pro Estado e o Estado vai nos tirar da ocupação. Assim como ele praticamente obriga as pessoas a trabalhar na cozinha pra garantir sua moradia. Esse é o critério número um pra ganhar casa.”

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