O perigo do otimismo ilusório
Quantas vezes você já se pegou repetindo frases como “Tá tudo bem”, “Isso vai ar”, ou “Não é tão grave assim”? Quantas vezes usou essas expressões como um escudo, uma forma de proteger-se da realidade que, por vezes, parece dura demais para encarar de frente?
É natural querer acreditar que tudo está sob controle, que as coisas vão se resolver magicamente, que o mundo é um lugar justo e que, no final, tudo sempre dá certo. Afinal, quem não gosta de se sentir seguro, esperançoso, otimista? Mas aqui vem a pergunta que não quer calar: até que ponto esse otimismo é real, e até que ponto ele é apenas uma ilusão persistente?
O Otimismo que constrói e o Otimismo que engana
Otimismo é, sem dúvida, uma das forças mais poderosas que podemos cultivar. Ele nos impulsiona a seguir em frente, a buscar soluções, a enxergar luz onde parece haver apenas escuridão. No entanto, há uma linha tênue entre o otimismo que constrói e o otimismo que engana.
Quando dizemos “Tá tudo bem” sem realmente acreditar nisso, estamos apenas mascarando a realidade. Estamos nos auto enganando, criando uma bolha de falsa segurança que, mais cedo ou mais tarde, vai estourar. E quando ela estoura, o impacto pode ser devastador.
Voltaire, em sua obra “Cândido”, nos apresenta um personagem que vive sob o lema “Tudo está bem, tudo vai bem, tudo vai o melhor possível”. Cândido é ensinado a acreditar nisso por seu mestre Pangloss, que insiste em ver o mundo através de lentes cor-de-rosa, mesmo diante de tragédias e absurdos. A mensagem de Voltaire é clara: essa forma de otimismo cego não só é ingênua, mas também perigosa.
A Ilusão que paralisa
A ilusão persistente tem um efeito paralisante. Ela nos impede de agir, de enfrentar os problemas de frente, de buscar mudanças reais. Afinal, se “tudo está bem”, por que se preocupar? Por que lutar? Por que mudar?
Mas a verdade é que nem tudo está bem o tempo todo. E está tudo bem não estar bem. Reconhecer isso não é ser pessimista; é ser realista. É dar-se a chance de olhar para a vida com honestidade, de identificar o que precisa ser transformado e, então, agir.
A Força do otimismo realista
O verdadeiro otimismo não nega a existência de problemas. Ele os reconhece, mas acredita na capacidade de superá-los. Ele não diz “Tá tudo bem” quando as coisas estão ruins, mas sim “Isso não está bom, mas eu vou encontrar uma solução”.
É esse tipo de otimismo que nos move, que nos faz crescer, que nos transforma. Ele exige coragem, porque nos obriga a encarar a realidade, por mais difícil que ela seja. E é justamente essa coragem que nos torna mais fortes, mais resilientes, mais capazes de construir uma vida verdadeiramente significativa.
Então, caro leitor, eu te convido a refletir: quantas vezes você tem usado o otimismo como uma fuga, e não como uma ferramenta de transformação? Quantas vezes você tem se enganado, dizendo a si mesmo que está tudo bem, quando, no fundo, sabe que não está?
Não há problema em querer ver o lado bom das coisas. Mas lembre-se: o verdadeiro otimismo não é sobre ignorar a realidade, mas sobre acreditar que você tem o poder de mudá-la.
A vida não é um conto de fadas, mas também não precisa ser uma tragédia. Ela é o que você faz dela. E para fazer algo verdadeiramente grandioso, você precisa começar sendo honesto consigo mesmo.
Então, da próxima vez que você se pegar dizendo “Tá tudo bem”, pause. Pergunte-se: está mesmo? E se não estiver, o que você pode fazer para mudar isso?
A ilusão persistente pode até trazer um conforto momentâneo, mas é a realidade, enfrentada com coragem e esperança, que nos leva a uma vida plena e autêntica.
Maysa Bezerra
Estrategista e Storyteller