Novo jogo de ‘Assassin’s Creed’ gera polêmica; entenda

Ambientado no Japão, game chega ao mercado nesta quinta-feira com personagem que tem estimulado muito debate

O novo jogo da franquia “Assassin’s Creed”, conhecido pelas suas minuciosas reconstruções históricas, gera polêmica ao apresentar um samurai negro no Japão do século XVI. “Shadows” estreia na quinta-feira (20) e é o 14º jogo da saga. O cenário foi desenvolvido em 3D, com cidades fortificadas e majestosos templos. “Fizeram um trabalho realmente assustador, muito preciso na reconstrução”, se entusiasma Pierre-François Souyri, historiador francês especialista em Japão e consultor do jogo.

A empresa sa criadora do jogo, Ubisoft, contratou uma dezena de especialistas e historiadores, principalmente ses e japoneses, para deixar tudo mais parecido com a realidade histórica e evitar clichês.

Tela de ‘Assassin´s Creed Shadows’ — Foto: Reprodução

‘Falta de respeito cultural’

No entanto, uma escolha em particular tem gerado uma série de debates: Yasuke, um personagem negro ao serviço do senhor da guerra, Oda Nobunaga, com status de samurai.

Este título indignou uma parte dos jogadores japoneses, até o ponto de fazerem uma petição para denunciar “um grave problema de precisão histórica e uma falta de respeito cultural”, que reuniu mais de 100.000 s.

— O plano do jogo é afirmar que ele era um samurai — explica Souyri. —Não se trata de uma tese universitária. É um personagem que realmente existiu, mas os textos que o mencionam dizem coisas difíceis de interpretar.

Em contrapartida, Yuichi Gozai, professor-adjunto do Centro Nacional de Pesquisa para os Estudos Japoneses em Kioto, considera que “nada prova que Yasuke possuía tais habilidades” de samurai.

— Yasuke foi conhecido pela sua cor de pele e sua força física — assegura este especialista do Japão Medieval, que considera provável que “(o senhor da guerra) Oda Nobunaga manteve Yasuke ao seu lado para utilizá-lo como um espetáculo”.

As acusações de “apropriação cultural” ou de “insensibilidade” em relação à história de minorias étnicas ou religiosas têm sido habituais nos últimos anos em Hollywood e no mundo da arte e da literatura

A princípio, essas acusações provêm de círculos acadêmicos de esquerda ou de ONGs.

A saga de “Assassin’s Creed” já foi criticada no ado, por exemplo, quando abordou a época da Revolução sa, no entanto, esta é a primeira vez que enfrenta críticas tão virulentas antes do lançamento de um episódio.

Um informe do Observatório Europeu de Videogame, publicado em fevereiro, aumentou a polêmica culpando as pessoas identificadas como conservadoras, que se opõem à “presença de personagens inclusivos”.

Campanha de desestabilização

— Nosso uso de Yasuke foi instrumentalizado por uma determinada população para transmitir sua própria mensagem — lamenta Marc-Alexis Côté, produtor executivo da franquia ‘Assassin’s Creed’.

Tratar da história do Japão segue sendo um tema sensível, como mostram certas reações a fragmentos de ‘Shadows’, onde um jogador danifica o interior de um templo.

— Entendo o princípio do secularismo na França, mas é importante reconhecer que insultos sem consideração à religião podem provocar reações fortes — enfatiza Yuichi Gozai.

Mas, de acordo com Yuichi Gozai, “se essas representações reforçarem a discriminação e o preconceito em relação ao Japão, elas se tornarão contraproducentes”. Para ele, “Assassin’s Creed Shadows” cristaliza claramente “essas preocupações”.

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