Ah, o maracujá… quem diria que essa fruta, tão associada à paz interior, estaria no epicentro de uma guerra silenciosa? Pois é, amigos, o campo está em polvorosa, e a culpa é do excesso de maracujá – ou, como eu gosto de chamar, o apocalipse da polpa.
O panorama é o seguinte: no Acre, a safra atual foi 2,5 mil toneladas cultivadas em pouco mais de 200 hectares. Desse total, 90 hectares estão concentrados no município de Capixaba, que lidera a produção estadual. Essa expressiva colheita movimenta cerca de 13.605.240 (Treze milhões, seiscentos e cinco mil, duzentos e quarenta reais, em Valor Bruto de Produção (VBP), reforçando a importância da fruta na economia local.
O futuro parecia promissor, mas o mercado, imprevisível e caprichoso, virou as costas para a produção. O resultado? Toneladas de maracujás sem destino, como ageiros perdidos em um terminal de ônibus. Mais do que um problema de armazenamento, a situação expõe a falta de estratégia para lidar com o excesso de oferta e a comercialização da safra.
Os produtores estão desesperados. O maracujá está murchando, literalmente, e com ele a paciência de quem investiu tempo, suor e esperança na fruta. A questão principal, no entanto, é: de quem é a culpa? A resposta é simples e filosófica: de todo mundo e de ninguém. Sim, porque, no Acre, quando algo dá errado, a culpa é sempre um jogo de “batata quente” – ou, nesse caso, “maracujá quente”.
O governo? Bem, ele faz o que pode, mas convenhamos, criar uma política de armazenagem para maracujá seria um pouco demais. Já pensou? “Secretaria do Maracujá e Afins”. Não dá. A Cageacre (Empresa Pública de Armazenagem do Acre), faz o que pode com seus silos vocacionados para grãos, mas maracujá não é milho, e o espaço é limitado.
E o mercado? Ah, o mercado… Esse ser invisível que regula tudo, menos o bom senso. Ele quer maracujá barato, mas não quer saber do drama dos agricultores. É como aquele amigo que reclama do preço da pizza, mas não tem ideia do trabalho que dá fazer uma.
Agora, os agricultores, esses heróis da roça, também têm sua parcela de culpa. Planejaram suas vendas confiando em dois clientes: a Cooperacre (maior cooperativa do estado) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), gerenciado pelo governo. E o que aconteceu? Nada. Ambos deram aquele famoso “deixa pra depois”. Resultado: maracujás encalhados e produtores olhando para suas plantações como quem olha para uma ex que não dá mais futuro.
A verdade é que o maracujá está murchando por falta de estratégia. E isso nos ensina uma lição valiosa: agricultura não é só plantar e colher. É preciso visão, planejamento e, principalmente, entender que o mercado não tem coração – e muito menos paladar.
Então, da próxima vez que você tomar um suco de maracujá, lembre-se: por trás daquela polpa calma, há uma guerra sendo travada. E se alguém disser que o maracujá é sinônimo de calmaria, pode rir. Porque, no Acre, até o maracujá entra em crise.
* Thiago de Almeida é economista, pós-graduado em Agronegócio e ESG (Environmental, Social, and Governance).