4 de junho de 2025

Brasil mantém domínio no Rainbow Six, e jogadores esperam mais reconhecimento

Brasileiros conquistam nono título internacional no FPS da Ubisoft, mas sem alcançarem a mesma popularidade de outras modalidades menos vitoriosas

Com o título mundial da FaZe Clan no Six Invitational 2025, o Brasil conclui mais uma temporada de domínio, ao mesmo tempo em que jogadores esperam que o Rainbow Six: Siege, com nove troféus internacionais conquistados por times brasileiros, obtenha maior reconhecimento dentro da comunidade de esports. Eles acreditam que o First-Person Shooter (FPS) da Ubisoft tem menos popularidade do que merece pelos resultados em campeonatos.

De 2021 para cá, equipes brasileiras conquistaram três títulos mundiais, dois deles em sequência nas últimas temporadas, e cinco edições de Major, três dos quais em 2023 e 2024. Em 2018, o primeiro troféu internacional do Brasil veio na Pro League.

Handyy, da FaZe Clan, abraça o irmão gêmeo nade, da FURIA, depois de conquistar o título mundial de Rainbow Six no Six Invitational 2025 — Foto: Michal Konkol/Ubisoft

Handyy, da FaZe Clan, abraça o irmão gêmeo nade, da FURIA, depois de conquistar o título mundial de Rainbow Six no Six Invitational 2025 — Foto: Michal Konkol/Ubisoft

Domínio brasileiro no Rainbow Six

Tamanha dominância pode ser explicada, segundo os jogadores, pelo investimento que os clubes estrangeiros de esports FaZe, Ninjas in Pyjamas (NIP) e Team Liquid iniciaram em 2018 ao contratarem elencos brasileiros, pela experiência adquirida em campeonatos internacionais e trazida para a competição local, promovida pela Ubisoft, ao longo dos anos, pelo estilo de jogo próprio criado pelo Brasil a partir desse intercâmbio e pela habilidade dos brasileiros em jogos de tiro.

— O Brasil demorou bastante para pegar ritmo. Antes era uma região qualquer. Foi mudando o ‘meta’, e o Brasil começou a ser mais criativo, a se adaptar e a pegar estilos de jogo de todas as regiões e criar o próprio. A gente tem um estilo de jogo único, que acaba surpreendendo bastante os times de fora — analisa Lucas “soulz1”, da FaZe.

— Os brasileiros são muito bons na parte de habilidade, sabem trocar tiro e se movimentar bem. A única coisa que falta é ter o mental mais forte e blindado. Comparado a outras regiões, é o que mais faz a diferença. Conforme os brasileiros evoluem dentro do jogo e têm o mental mais forte, desempenham cada vez melhor, que é o que está acontecendo hoje em dia — comenta Jaime “Cyber”, da FaZe, o primeiro atleta de Rainbow Six do muno a somar 2 mil abates nas principais competições.

O surgimento de novos jogadores, em torneios de o para a liga local, ainda estimula a competitividade e propicia uma renovação que tem mantido o Brasil em alta nos últimos quatro anos, na opinião de João Vitor “Jv92”, da FURIA.

— Tem muitos jogadores novos e bons, e os times se tornam mais competitivos. Os times brasileiros treinam entre si todos os dias, e todos melhoram.

Potência, mas com visibilidade menor

Embora o Brasil seja uma potência incontestável, o Rainbow Six não tem, no país, nem de perto, a mesma visibilidade de games como Counter-Strike e Valorant, nos quais equipes brasileiras já foram campeãs mundiais, mas não estão mais no auge. Até mesmo o League of Legends, cujos representantes do Brasil costumam ter campanhas pífias em participações internacionais, é mais popular.

— O Rainbow Six deveria ser mais visto. Falta mais reconhecimento, da competição pelo menos. Um cenário em que o Brasil reina tanto assim é difícil — destaca Willian “Stk”, da Razah Company.

A explicação mais citada para essa contradição em um país que torce muito por brasileiros e dá muita ênfase nas vitórias em qualquer esporte é a dificuldade de entender o Rainbow Six, não só para jogar, mas também para assistir, o que afasta parte do público.

Felipe “FelipoX”, da FURIA, ressalta que o maior atrativo do FPS, de misturar tiro em primeira pessoa com táticas complexas, é também a principal barreira para aquisição de público consumidor.

— Um novo jogador assiste ao Rainbow Six e até acha legal de assistir, mas é muito difícil de entender. A complexidade do jogo, ao mesmo tempo que é algo muito bom, afasta o público, e acaba não tendo bases de jogadores e fãs tão grandes, como outros jogos que são mais fáceis de consumir — compara o jogador, ainda lembrando que o Rainbow Six não é gratuito e precisa ser comprado.

Thiago “Handyy”, da FaZe, acredita que a sequência de conquistas pode ajudar a diminuir a resistência do público brasileiro e fazer o jogo ser mais reconhecido.

— Com o ar do tempo, o Brasil ganhou título atrás de título, e a gente conseguiu ser mais reconhecido dentro do Rainbow Six. Eu vi muita gente que nem jogava o jogo realmente assistindo ao Six Invitational, pelo tamanho do campeonato, mas também pela paixão do brasileiro em ver outro brasileiro vencer.

O diretor de esports da Ubisoft para a América Latina, Leandro “Montoya”, pondera que “as pessoas poderiam ouvir falar mais” de Rainbow Six e ite as dificuldades de o ao game, mas prefere valorizar o segmento de mercado que o FPS ocupa.

— O Siege tem o seu espaço, e a gente trabalha muito bem com a comunidade que nos a — enfatiza o executivo.

— A gente respeita outros jogos e os espaços que eles têm. O sucesso do League of Legends e do Counter-Strike, que vieram antes de nós e ajudaram a pavimentar o cenário de esports, auxilia quando temos de buscar as marcas e as empresas não endêmicas do mercado. Elas percebem os esports como uma grande modalidade. O Siege ocupa um espaço bem específico, de FPS tático. Quem se apaixona por ele não joga outras modalidades.

Um indicativo prático dessa desvalorização é que, no Prêmio eSports Brasil de 2024, apesar do sucesso brasileiro, o Rainbow Six não ficou entre os finalistas na categoria de melhor jogo, assim como a w7m, vencedora de dois majors e do Six Invitational, não entrou na concorrência final para melhor organização.

O narrador André “meli”, a principal voz do Rainbow Six em português, venceu como melhor caster, depois de anos sendo apontado como forte concorrente, e até favorito, e não levar. Em entrevista, meli disse que o jogo “às vezes é deixado de escanteio”.

O diretor da Ubisoft revela que teve um “papo muito franco” com a organização do Prêmio eSports Brasil.

— Eu espero que eles vejam o tamanho do Siege agora — comenta Montoya, ciente da necessidade de tentar levar o jogo para além da sua própria comunidade.

— Espero que as pessoas venham e conheçam mais o Siege ao longo do tempo. Esse também é o nosso trabalho, divulgar e aparecer.

O sucesso brasileiro pode ser justamente o maior atrativo para que o Rainbow Six seja mais reconhecido, como anseiam os jogadores. É algo que, ite o executivo da Ubisoft, tem que ser aproveitado ao máximo.

— É muito bom ter pelo menos uma modalidade, no caso, o Siege, que vence lá fora. É muito difícil. E a gente espera que isso continue, a gente não sabe por quanto tempo. O cenário flutua, às vezes o ‘meta’ do game muda. Vamos surfar a onda enquanto estamos vencendo — crava o diretor de esports para a América Latina.

Público brasileiro no Ginásio Ibirapuera, em São Paulo, durante o Six Invitational 2024, o campeonato mundial de Rainbow Six — Foto: Kirill Bachkirov/Ubisoft

Público brasileiro no Ginásio Ibirapuera, em São Paulo, durante o Six Invitational 2024, o campeonato mundial de Rainbow Six — Foto: Kirill Bachkirov/Ubisoft

Sucesso brasileiro em números

Neste ano, o Mundial de R6 teve cinco times e 30 jogadores brasileiros. Além dos 25 integrantes de elencos totalmente brasileiros, cinco atletas do país integraram três equipes estrangeiras.

Desde 2018, depois de uma primeira edição com só uma equipe brasileira, o número de participantes no Six Invitational variou de quatro a seis, com o recorde de 32 jogadores do Brasil tendo ocorrido em 2022. Em 2021, haviam sido 31.

Nesses anos todos, o Brasil se manteve como o país mais representado do mundo, sempre deixando os Estados Unidos na 2ª colocação.

Em número de títulos, o Brasil tem três conquistas de Six Invitational: 2021 com a NIP, 2024 com a w7m e 2025 com a FaZe.

Em majors, os segundos campeonatos mais importantes do cenário competitivo, são cinco troféus para brasileiros, sendo três da w7m, em 2023 e 2024, um da FaZe em 2021 e um da Team One também em 2021.

A Liquid venceu a Pro League, a série de campeonatos que antecedeu o ecossistema competitivo atual, em 2018.

No Mundial, nos majors e na Pro League, times brasileiros ficaram com 12 vices, sendo que quatro deles ocorreram em finais com dois representantes do Brasil na disputa.

Uma dominância tão extensa não resulta apenas em reconhecimento internacional, mas também em dinheiro. Embora as duas equipes com maior faturamento com premiações não sejam brasileiras, o Brasil é apontado, em levantamento do site Esports Earnings, como o país com o mais alto ganho em prêmios, totalizando US$ 13,028 milhões, o que corresponde a cerca de R$ 74, 26 milhões na cotação atual. Os Estados Unidos, na 2ª colocação, faturaram US$ 8,2 milhões (R$ 46,76 milhões).

Os dados do site ainda não consideram os prêmios do Six Invitational 2025, concluído no último domingo (16).

Brasil como sede internacional

Ginásio Ibirapuera, em São Paulo, em dia de final do Six Invitational 2024, o campeonato mundial de Rainbow Six — Foto: Eric Ananmalay/Ubisoft

Ginásio Ibirapuera, em São Paulo, em dia de final do Six Invitational 2024, o campeonato mundial de Rainbow Six — Foto: Eric Ananmalay/Ubisoft

Além de uma potência no servidor, o Brasil também ou a ser sede de campeonatos internacionais. Depois do Six Invitational de 2024 em São Paulo, o evento inaugural da temporada 2025/2026, chamado Reload, ocorrerá no Rio de Janeiro, em maio, com a participação de 20 equipes.

Perguntado se, com isso, o Brasil a a ser parte permanente do calendário de competições de Rainbow Six, o vice-presidente de esports e game competitivo da Ubisoft, Francois-Xavier Deniele, prefere a cautela, mas exalta a comunidade brasileira.

— Precisamos ter certeza de que estamos oferecendo experiência para todas as partes do mundo, nem sempre o Brasil, mas quando precisarmos voltar, voltaremos sempre que pudermos, porque é uma coisa muito importante para nós. Provamos que temos uma equipe no local que está trabalhando muito bem em todos os aspectos, crescendo em todos os aspectos do jogo, celebrando a comunidade o tempo todo. É uma questão de tempo. Voltar já um ano depois é um grande sucesso. Nós ficamos longe por muito tempo e, agora, tivemos dois eventos em dois anos.

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