Mark Zuckerberg anunciou, na última semana, uma série de mudanças nas plataformas da Meta, que incluem Instagram, Facebook, WhatsApp e Threads. Entre as alterações, estão o fim do sistema de verificação de fatos (fact-checking), o relaxamento de políticas que podem facilitar a disseminação de discursos de ódio e a descontinuação dos programas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) da empresa. Essa guinada radical nas políticas da big tech tem sido interpretada por analistas como um aceno político a Donald Trump, que assume a presidência dos Estados Unidos em 20 de janeiro. A seguir, confira tudo o que você precisa saber sobre as mudanças no Instagram e Facebook.

Meta: tudo o que você precisa saber sobre as mudanças no Instagram e Facebook — Foto: Arte/TechTudo
Em um vídeo publicado na última terça-feira (7), Mark Zuckerberg anunciou o fim do sistema de checagem de fatos nas plataformas da Meta. Durante o pronunciamento, o CEO da big tech afirmou que o sistema cometia muitos erros, resultando na censura e remoção de postagens por verificadores que, segundo ele, tinham um viés político específico. Com o encerramento do sistema, a Meta deixará de se envolver na verificação de conteúdos considerados “menos graves”.
Notas da Comunidade
As Notas da Comunidade nas plataformas da Meta funcionarão de maneira semelhante ao sistema utilizado no X (antigo Twitter) de Elon Musk. Nesse modelo, caberá aos usuários verificar os conteúdos. Por exemplo, se um usuário considerar que uma postagem é falsa, ele poderá denunciá-la ou adicionar informações que complementem ou expliquem o contexto real. Na prática, as Notas da Comunidade dão aos usuários o poder de definir o que é ou não uma fake news, discurso de ódio, entre outros.
Impulsionamento de conteúdos políticos
Além das mudanças na checagem de fatos, a Meta também anunciou que vai deixar de reduzir o alcance de conteúdos sobre política em suas redes sociais. Implementada em 2021, a medida impedia que os chamados “conteúdos cívicos” tivessem a mesma distribuição que outros tipos de posts. Agora, o Instagram e o Facebook poderão recomendar conteúdo sobre eleições e política para usuários na seção de publicações sugeridas, na qual o algoritmo das plataformas elege posts que considera de interesse do usuário a partir de seu comportamento nas redes, mesmo que venham de contas que ele não segue ativamente.
Novidades abrem margem para discursos de ódio
Com o fim da política de fact-checking, especialistas avaliam que a Meta abre espaço para um possível aumento nos discursos de ódio nas plataformas. Sob o pretexto de garantir liberdade de expressão, a big tech permitirá que usuários utilizem linguagens ofensivas e desumanizadoras. Desse modo, ataques contra pessoas negras, transgêneros e não binárias, podem não sofrer nenhum tipo de repreensão, ao menos por parte da empresa, caso ela entenda que a linguagem foi empregada em um debate religioso ou político. Além disso, a Meta removeu filtros que protegiam as mulheres de linguagens que as retratam como “objetos domésticos” ou “de propriedade”.

Meta encerra DEI
Em mais uma ação interpretada como um aceno ao futuro governo Trump, a Meta decidiu encerrar seu programa de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI). Na prática, a big tech não estará mais obrigada a priorizar candidatos de grupos sub-representados em seus processos seletivos, nem a fazer negócio com fornecedores dessas categorias. Vale mencionar que empresas como Walmart e McDonald’s também abandonaram programas DEI.
As mudanças foram detalhadas em um memorando interno assinado por Janelle Gale, vice-presidente de recursos humanos da Meta, obtido pelo portal Axios e posteriormente confirmado pela empresa. No documento, Gale afirma que “o cenário legal e político em torno dos esforços de diversidade, equidade e inclusão nos Estados Unidos está mudando”. Ela acrescenta que, daqui em diante, a Meta desenvolverá programas voltados para “a aplicação de práticas justas e consistentes que mitiguem o preconceito para todos, independentemente de sua origem”.
A Advocacia-Geral da União (AGU), após uma reunião com o presidente Lula, notificou a Meta e deu um prazo de 72 horas para a empresa explicar as mudanças em sua política de checagem de postagens. No ofício, a AGU expressou preocupação com as “consequências nefastas” que as alterações promovidas pela big tech podem trazer para o ambiente digital. A notificação destacou que a Meta deve “assumir suas responsabilidades com a integridade do ambiente informacional”.
O documento também solicitou esclarecimentos sobre as medidas que a empresa adotará para proteger crianças e grupos vulneráveis. Embora ainda não exista uma lei que regule o ambiente virtual, o governo brasileiro exige que a empresa norte-americana respeite a soberania e as leis brasileiras.
Em resposta, a Meta garantiu que o fim do programa acontecerá, neste primeiro momento, apenas nos Estados Unidos. De acordo com informações divulgadas pelo g1, a empresa diz que “está comprometida com a transparência, em respeitar os direitos humanos e a liberdade de expressão”.
O que deve mudar para o usuário das redes sociais?
As mudanças implementadas pela Meta devem impactar o uso dos usuários das redes sociais. O fim da moderação de conteúdo pode resultar em um feed mais poluído, com postagens de baixo interesse. Além disso, ao transferir a verificação para os próprios usuários, há o risco de opiniões divergentes da maioria serem censuradas. Por fim, analistas entendem que o discurso de “maior liberdade de expressão” utilizado para justificar as mudanças pode acabar servindo como pretexto para a proliferação de comentários e publicações falsas.